Leonardo Arruda

Diretor de Suprimentos

Associação Brasileira Pela Legítima Defesa

 

Vou fazer-lhes uma pergunta: Armas para quê? Para lutar contra quem? Contra o Governo Revolucionário, que tem o apoio de todo o povo?… Armas para quê? Tem alguma ditadura aqui? Vão lutar contra um governo livre, que respeita os direitos do povo? Agora que não tem censura, e que a imprensa é inteiramente livre, mais livre do que nunca antes, e além disso tem a segurança de que o seguirá sendo para sempre, sem que volte a haver censura aqui? …

Trecho do discurso de Fidel Castro pronunciado em sua chegada a Havana no dia 8 de janeiro de 1959

O título deste artigo remete ao famoso discurso de Fidel Castro ao povo cubano em que ele anunciou a proibição total do uso de armas por civis. Não por acaso, é também o título de um livro do conhecido desarmamentista do Viva Rio, Antônio Rangel Bandeira. Veja o leitor, portanto, que é um título recheado de simbolismo.

Para os esquerdistas de todo mundo, a posse individual de armas não pode ser tolerada (*).

O motivo é muito simples: como implementar o socialismo numa população armada? Como implementar um governo necessariamente totalitário e opressor num povo armado? Quando um povo está armado, só um regime funciona: a democracia. A alternativa é o banho de sangue. Paradoxalmente, as primeiras restrições ao uso de armas por civis nas democracias ocidentais começaram na década de 1920, devido ao pânico criado pela Revolução Bolchevique de 1917 na Rússia.

A importância que a esquerda dá ao desarmamento não tem correspondente na direita brasileira. Isto é um tremendo erro de cálculo. Os conservadores no Brasil tendem a achar que a questão da posse e uso de armas é uma questão secundária, “coisa de criança” dizem alguns, ou até mesmo “coisa de ignorantes”. Essa atitude blasé não pode estar mais errada.

Basta vermos a histeria que algumas portarias sobre o assunto editadas por Bolsonaro causou na mídia, entre congressistas e entre os doutos ministros do STF. Notem que o Estatuto do Desarmamento (ED) não foi revogado e, evidentemente, as portarias editadas não podem ir contra esta Lei. Basicamente, as portarias de Bolsonaro apenas diminuíram a burocracia envolvida no processo de aquisição e registro de armas. O que antes levava de um a dois anos, agora fica pronto em 60 dias. Só isso. Todos os requisitos e exigências constantes no ED continuam vigentes (as punições também). Pela gritaria vemos o quanto essa questão é importante para a esquerda. Ao contrário de nossa direita blasé, para a esquerda este é um assunto muito sério.

Em sua justificativa para cancelar uma decisão do Poder Executivo que reduzia o imposto de importação para armas curtas, o ministro do STF Edson Fachin foi muito explícito: “O risco de um aumento dramático da circulação de armas de fogo, motivado pela indução causada por fatores de ordem econômica, parece-me suficiente para que a projeção do decurso da ação justifique o deferimento da medida liminar”.

O texto é exemplar da ignorância e do pavor que a esquerda tem sobre a presença de armas na sociedade (lembro ao leitor que Fachin foi cabo eleitoral da então candidata a presidência Dilma Roussef). A ignorância do ministro pode ser vista pela ideia pueril de que retirando-se o imposto de importação as armas ficarão mais baratas. O pavor pode ser visto pelo seu temor elitista de que o “populacho” (nós) não pode ter armas. A esquerda sabe do que está falando.

É verdade que através de portarias Bolsonaro liberou diversos calibres de armas curtas mais potentes, armas estas que eram consideradas proibidas para civis desde 1934. Esta classificação, eufemisticamente chamada pela imprensa de “armas exclusivas das Forças Armadas” (o que não é verdade), foi estabelecida por decreto pelo então ditador Getúlio Vargas, que ficou apavorado com o poder de fogo exibido pelos paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932. Como todo ditador que se preze, ele também quis desarmar o povo.

Infelizmente, por pressão dos militares, Bolsonaro não pode cumprir uma promessa de campanha que era liberar o uso de fuzis para o homem do campo. Não só os esquerdistas, mas nossos militares têm medo do povo armado.

A intelectualidade botocuda faz tudo para que a direita inocente mantenha seu desprezo pelo assunto armas. Uma de suas prioridades é não mostrar a realeza europeia e o jet-set mundial caçando ou praticando algum esporte do tiro. Você certamente não verá notícias desse tipo na revista Caras. A última coisa que eles querem é que nossa classe média enxergue os esportes com armas como algo chique. Melhor ela continuar pensando que arma é coisa de polícia ou de bandido. No entanto, é essa gente nobre e endinheirada que mantém vivos os ateliês centenários de armas sob medida, tais como as chiquérrimas casas Holland & Holland, J. Purdey & Sons, Antonio Zoli, John Rigby & Co, etc. O leitor provavelmente já ouviu falar nos cristais Swarovski, mas duvido que saiba que este fabricante também faz conceituadas miras telescópicas para fuzis de caça. Não sabia? Pois é: você foi “poupado” deste conhecimento pernicioso por nossa imprensa ativista.

Enquanto nossos conservadores não derem a mesma importância que a esquerda dá a questão das armas, a democracia e o sistema capitalista no país não estarão seguros.

Por isso aqui vai minha recomendação: se o leitor ainda não tem, compre uma arma de fogo imediatamente. Não importa se você não gosta de armas ou as acha perigosas. Deixe-a dentro de uma gaveta trancada. É pelo bem do Brasil. Pense no país que você vai deixar para seus filhos e netos. Hoje, apenas 0,5% da população brasileira possui armas (armas legais, é claro). Para assegurarmos uma democracia, no mínimo 5% da população deve estar armada. Se você as acha muito caras (o que é verdade, a carga tributária é absurda) compre uma de segunda mão. A burocracia será a mesma, mas o preço será bem menor. Com os novos decretos, muita gente quer vender sua arma antiga para comprar uma mais potente. Aproveite esta oportunidade. Quanto mais gente armada, mais difícil será o confisco e mais segura estará nossa débil democracia.

Além disso, lembre-se do ditado popular: melhor ter e não precisar do que precisar e não ter.

Lute pelo direito de ter armas. Dê a este assunto a mesma importância que a esquerda dá.

 

(*) Há exceções: O ex-presidente do Uruguai, José Mujica é a favor do povo armado, assim como o brasileiro Partido da Causa Operária (PCO). Ambos defendem a posse de armas para implementar a “verdadeira revolução popular”.

 

Processo Eleitoral de 2019 da ABPLD

Caros amigos associados e apoiadores,

Está em curso o Processo Eleitoral de 2019, cujo objetivo é a escolha democrática dos nossos pares que terão a honrosa, porém grave, responsabilidade de exercer os cargos da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal, no período de 23/10/2019 a 22/10/2023.

Todas as normas e instruções pertinentes foram — ou serão, até 13/08/2019, o mais tardar — publicadas aqui, na página principal do site associativo. Basta pesquisá-las com a utilização dos botões numerados que aparecem em destaque em tal página (no alto, à direita de quem lê) e consultá-las, em texto integral, através do link Documentação Legal (no alto, à esquerda de quem lê).

Sua participação é extremamente importante.

Mas, se tiver alguma dúvida, envie-me uma mensagem eletrônica (abpldpresidente@pelalegitimadefesa.org.br). Terei prazer em ajudar a esclarecer os pontos que lhe parecerem obscuros. Recomendo-lhe, não obstante, que veja o filme do nosso programa Legítima Defesa em Foco em que tratei de tão importante assunto (link abaixo):

https://www.youtube.com/watch?v=RlHWywQBs1Q&feature=youtu.be

Forte abraço do

PAES DE LIRA

Presidente.

 

Amigos da ABPLD,

Segue excelente artigo de nosso associado fundador, Sr. Leonardo Arruda, contestando a falácia dos que ainda insistem em divulgá-las na tentativa de convencer as pessoas de que o desarmamento civil é vantajoso.

Os únicos que efetivamente levam grande vantagem com o desarmamento das pessoas de bem são os criminosos e os tiranos.

Mais armas, mais crimes? Óbvio que não!

Recomendo a leitura e divulgação.

José Luiz de Sanctis.

#PLDportejá

 

Mais armas, mais crimes?

Como a cantilena anti-armas pode ser tão persuasiva?

Leonardo Arruda

Outro dia li um artigo de João Luiz Mauad, do Instituto Liberal, comentando um trabalho de Carlos Góes intitulado “Mais armas, mais crimes: porque mudamos de ideia.”

O artigo de Mauad discorda da conclusão do trabalho por uma questão filosófica, como pode ser visto na conclusão do mesmo que transcrevo a seguir:

Meu ponto, portanto, é que não importa se a conclusão de Góes está certa ou errada, ainda que a pesquisa empírica possa ajudar muito em outras questões. Meu ponto é que utilitarismo estrito não tem lugar à frente da liberdade. Meu direito à autodefesa e minha disposição de assumir responsabilidade por isso – dada a probabilidade de que o governo não conseguirá me defender a contento – não devem ser comprometidos por análises frias de custo-benefício.

Posteriormente, numa troca de correspondência, Mauad reforçou:

Meu ponto no artigo foi outro: demonstrar que a liberdade de possuir armas é, para o liberal, antes de tudo uma questão de princípio, não de custo-benefício.

Carlos Góes, por sua vez, é um articulista do websítio Instituto Mercado Popular (IMP), que de forma alguma pode ser rotulado como de esquerda. Seu lema é “Economia Livre e Justiça Social”, como pode ser visto na página inicial do IMP.

Apesar de, pessoalmente, não concordar com a filosofia liberal, fiquei deveras intrigado pelo fato de dois expoentes da direita liberal chegarem a considerar a possibilidade de ser verdadeira a correlação “mais armas – mais crimes”.

Pensei cá com meus botões: se estes dois intelectuais de direita, que deveriam estar vacinados contra essa argumentação esquerdista, caíram nesse conto, bem, então qualquer um pode cair.

Diante dessa triste conclusão resolvi fazer uma análise crítica do trabalho do Carlos Góes, analisando algumas de suas referências e tentando mostrar como não se sustenta a tese simplista/esquerdista de que armas causam crimes.

Meu estilo de escrever é meio debochado mesmo e por isso, de antemão, rogo aos autores Góes e Mauad que me perdoem se os ofendi, pois tenho os dois em alto conceito.

Os comentários estão inseridos no texto na cor azul.

Mais armas, mais crimes: por que mudamos de ideia. Veja os dados.

Por Carlos Góes@goescarlos  Em 20/03/2018

Há três anos, publicamos um texto dizendo que a relação entre armas e homicídios era inconclusiva. Faltava um consenso claro na literatura empírica até o começo dos anos 2000.

Nos últimos três anos, contudo, foram publicados outros estudos, bem como estudos que levam em conta as conclusões de muitos outros estudos para chegar numa conclusão única – que no jargão científico são chamados de “meta-análises”. Esses estudos e meta-análises, considerados em conjunto, apresentam evidências robustas sobre uma relação direta entre a quantidade de armas e o número de homicídios.

Como o consenso científico mudou, nós mudamos de opinião. Este texto traz os dados que explicam o porquê.

Não existe este consenso científico. Este consenso só existe entre os autores anti-armas e seus trabalhos estão longe de serem científicos.

“Mais armas, mais crimes” ou “mais armas, menos crimes”?

Provavelmente você já ouviu dois argumentos contraditórios e razoáveis. Os favoráveis ao desarmamento dizem que, com menos armas disponíveis, será mais difícil para os criminosos cometerem crimes violentos. Já os que apoiam o armamento civil alegam que, dada a baixa probabilidade que civis tenham armas, criminosos estarão mais dispostos a atacá-los, já que o risco de retaliação é baixo.

O que os dois lados ignoram é que esses efeitos não são mutuamente excludentes. A disponibilidade de armas na verdade tem dois efeitos simultâneos sobre a violência:

  1. Efeito promotor. Do mesmo jeito que ocorre com as drogas, proibir o comércio de armas reduz a oferta total de armas e, com isso, aumenta o preço das armas no mercado ilegal. Isso não significa que vai ser impossível para criminosos comprar armas – mas significa que vai ser mais caro – e o esperado é que, por causa desse custo mais alto, criminosos tenham menos acesso a armas. Em resumo, o efeito promotor de violência das armas é: se as armas forem legalizadas, o preço de armamentos tenderá a cair, o acesso de criminosos a elas aumentará, e mais violência armada ocorrerá.

Tolice: O preço das armas no mercado legal brasileiro nada tem a ver com o preço das armas no mercado ilegal. Infelizmente, devido a grande quantidade de impostos incidentes propositalmente altos (para que pobres não possam ter armas), o preço oficial está “descolado” do preço real (o valor intrínseco do produto). Assim, o que baliza o preço no mercado ilegal é a maior ou menor disponibilidade do contrabando.

Outro fator é o modismo. Os criminosos hoje querem armas automáticas ou semi-automáticas, o que fez baixar o preço das armas de repetição no mercado ilegal. A maior prova disso é o preço que o governo brasileiro ofereceu por revólveres nas campanhas de entrega voluntária de armas realizadas: um vigésimo do valor de loja. Esse valor irrisório foi suficiente para desestimular a venda sem registro para terceiros e direcionar as armas para a entrega ao governo. Quando o mercado informal apresenta preços inferiores ao mercado oficial, é uma demonstração cabal que este mercado está plenamente abastecido. Assim, imaginar que a liberação de armas legais aumentará o acesso de criminosos a elas ou que seus preços irão cair não passa de ilusão. Lembro que bandidos não compram armas no mercado legal.

  1. Efeito dissuasório. Criminosos, como os outros seres humanos, são, em geral, avessos ao risco. Isso não significa que a aversão ao risco deles é a mesma dos não-criminosos, mas simplesmente que, tudo o mais constante, eles prefeririam correr menor risco – por exemplo, eles prefeririam que ninguém à exceção deles tivesse armas – e maiores riscos devem ser compensados por recompensas maiores. Em resumo, o efeito dissuasório de violência das armas é: com armas legalizadas, o acesso a elas pela população civil será maior e a incerteza sobre se os civis vítimas de crimes estarem armados aumentará. Com isso, o risco para o criminoso também aumenta e, sendo ele avesso ao risco, ele tenderá a cometer menos crimes.

É verdade, mas na realidade bandido será sempre bandido. Quando as vítimas estão armadas eles simplesmente procuram formas de crimes que não impliquem em contato com a vítima. Em outras palavras, crescem os furtos em detrimento dos roubos, mas eles não deixarão de cometer crimes. Isso é bom para a sociedade, dado que diminui o número de mortos e feridos.

Armas, na verdade, provocam esses dois efeitos contraditórios. Por um lado, elas aumentam os crimes, por outro, diminuem. Uma vez que se admite a existência desses dois efeitos, o que importa, para os efeitos de política pública, portanto, é o efeito líquido dos armamentos:

efeito líquido das armas sobre os homicídios = (efeito promotor) – (efeito dissuasório)

Vemos acima que o autor aceitou o dogma alardeado pelos anti-armas: “armas aumentam os crimes”. Ninguém comete um crime apenas porque possui uma arma e ninguém deixa de ser criminoso porque não a tem. Como dissemos acima, a presença de armas na sociedade apenas muda o modus operandi dos criminosos, fazendo-os preferir evitar o contato com as vítimas em potencial.

Violência é um assunto complexo

Fenômenos como a violência são complexos. É só pensar que existe uma miríade de variáveis que podem potencialmente interferir sobre a violência: demografia, pobreza, desigualdade, educação, cultura, racismo, machismo, etc. Por isso, isolar qual o efeito específico de políticas sobre armas é uma tarefa difícil – o que não significa que não possa ser feito com as ferramentas estatísticas apropriadas.

Ao usar o termo violência ao invés da palavra correta que é criminalidade, o autor revela que foi contaminado pela cantilena anti-armas.

É necessário compreender que é possível que determinada política pode ter levado à redução no número de homicídios mesmo se, depois de sua implementação, o número observado de homicídios tenha aumentado. Como isso é possível? Entendendo que, na ausência da política, o número de homicídios teria sido ainda maior.

Será que ele vai falar das 160 mil mortes “evitadas” pelo Estatuto do Desarmamento tal como apregoa o Viva Rio? (mais sobre isto abaixo)

Com esse exemplo fica mais fácil de entender: Suponha que você esteja contando o número de horas que você passa na academia por semana ao longo do tempo. Você percebe que, nos últimos três meses, o número de vezes que você foi à academia subiu de uma para quatro vezes por semana. Ao mesmo tempo, você engordou quatro quilos nos últimos três meses. É plausível assumir que você engordou por causa do aumento de horas que você passa na academia? Certamente não. Você teria que considerar outras variáveis como, por exemplo, o número de calorias que você ingeriu por dia no período. O mais provável é que, caso você não tivesse passado mais horas na academia, você tivesse engordado ainda mais, não é?

Ou seja, é preciso compreender fenômenos complexos como sendo causados por diversas variáveis. E é necessário tentar estimar qual é o efeito de cada um desses fatores sobre esses fenômenos se os outros fatores que influenciam o fenômeno tivessem sido mantidos inalterados.

A questão não é essa. Se seu peso chegou a 150kg, significa que você tem uma disfunção hormonal. Nesse caso é irrelevante quantas vezes você vai academia. No caso dos homicídios no Brasil o problema chama-se impunidade e nesse caso, o número de armas legais ou ilegais é irrelevante. Lembro que em nosso país, apenas 8% dos homicídios são esclarecidos e apenas 2% dos assassinos cumprem pena (nas outras formas de crime os índices são ainda menores).

Quais são as evidências empíricas?

Quando a gente observa resultados contraditórios de estudos sérios sobre problemas complexos como esse, a melhor resposta que nós podemos encontrar está nas chamadas “meta-análises”. Essas “meta-análises” agregam diversos estudos estatísticos e chegam a um único resultado. A ideia é que, embora os diversos estudos possam ter problemas, quando eles são agregados, o viés tende a desaparecer.

Nada disso. Em primeiro lugar são raros os “estudos sérios” sobre este assunto. Quase todos os estudos que concluem negativamente sobre as armas são patrocinados por instituições anti-armas (IANSA, Open Society Foundation, Ford Foundation, etc. etc.) e eles são em número muito maior que das instituições isentas (agências governamentais, universidades, etc). Assim, se você agregar essas estatísticas, certamente o viés anti-armas tende a aumentar.

Entre 2012 e 2017, foram publicadas cinco meta-análises que buscavam analisar a relação entre armas de fogo e homicídios. Quatro dessas cinco meta-análises, que em conjunto analisaram 242 estudos, concluíram que existe uma associação positiva entre armas e homicídios[1]. Somente uma meta-análise recente, que considerou 41 estudos, não encontrou uma associação entre armas e homicídios[2].

As referências (1) citadas pelo autor são de instituições médicas lideradas pelo JAMA – Journal of the American Medical Association – todas elas anti-armas. Seus estudos apresentam falhas grosseiras de análise de casos (em verdade eles distorcem os casos (A)) e não podem ser levados a sério. Médicos não entendem de criminologia e (compreensivelmente) tem horror a ferimentos por armas de fogo.

Muitos médicos norte-americanos, entretanto, ficaram revoltados com essa postura do JAMA e outras instituições classistas e em resposta, fundaram a DRGO – Doctors for Responsible Gun Ownership cujo lema é “trazer honestidade ao debate sobre armas”.

Numa revisão da literatura publicada nos últimos 5 anos, o economista Thomas Conti, professor de análise econômica do direito da Unicamp, encontrou 41 estudos empíricos publicados sobre esse tema. Sua conclusão é similar à maioria das meta análises: 34 dentre os estudos encontram uma associação entre armas e homicídios e 7 encontram uma associação contrária[3].

Seja analisando somente os estudos publicados nos últimos 5 anos ou as meta-análises publicadas recentemente (que incluem estudos mais antigos), a conclusão aponta para a mesma direção: mais armas levam a mais homicídios com armas – e o homicídios com armas são, na maioria dos países, quase a totalidade dos homicídios.

O conjunto de estudos que dava algum apoio à tese “mais armas, menos crimes”, que orbitavam o economista americano John Lott Jr., tiveram boa parte de seus resultados revertidos após correções em sua base de dados e não resistiram às técnicas estatísticas mais recentes[4]. Por isso, acabou ocorrendo essa mudança no estado-da-arte da evidência científica.

Fiquei curioso e fui ler o artigo do Dr. Conti que desconhecia.

Lamentavelmente o jovem doutor é outro que caiu na esparrela do “trabalho científico”. Dos 34 estudos citados por ele que afirmam que mais armas implicam em mais crimes, 32 foram escritos por americanos e abordam aspectos dos EUA.

O curioso é que o número de armas nas mãos de civis nos EUA triplicou desde a década de 1970 até os dias de hoje (371 milhões de armas em 2014 (B)). Aumentou também a difusão e, hoje, quase 50% dos lares possuem ao menos uma arma de fogo.

Desde que, em 1987, o estado da Flórida adotou o porte de arma não discricionário (shall issue) com bons resultados sobre a criminalidade, esta política se espalhou pelo país e hoje, quarenta e dois estados (dos 50 existentes) facilitam o porte de arma (porte não discricionário) (C), sendo que, dentre estes, em 5 estados simplesmente o porte é livre (Vermont, Maine, Alaska, Arizona, Wyoming e Kansas) (D). Apenas oito estados ainda relutam em conceder a licença de porte. Atualmente, mais de 16 milhões de americanos tem licença para portar armas (E). Este número cresceu 256% durante os mandatos de Obama.

Diante desses números, seria de se esperar, pela lógica, que a criminalidade nos EUA tivesse aumentado – se não na mesma proporção, ao menos um pouco, não é mesmo? Mas, curiosamente, o índice de homicídios baixou de 5,8/100 mil habitantes em 1998 para 4,2/100 mil em 2014 (27% menor) (F). Este índice, nos EUA, é hoje o menor desde 1957.

Mas não houve redução apenas nos homicídios. O gráfico acima (baseado em dados oficiais) mostra os crimes cometidos com arma de fogo em geral (área colorida) plotado contra o aumento no número de armas curtas até 2010 (linha azul) e o número de estados que adotou o porte de arma não discricionário. Não é impressionante?

Mas não precisamos ficar apenas nos EUA. Nossos vizinhos Paraguai, Uruguai e Argentina possuem número de armas per capita bem maiores que os brasileiros e seus índices de criminalidade também são bem inferiores aos nossos. Não deveria ser ao contrário? Notar que eles são latino-americanos como nós, têm governos corruptos, instituições fracas e estão em crise econômica como nós.

Diz o bom senso que se a realidade contraria uma teoria é porque a teoria está errada. Aparentemente, para o Dr. Conti, se a realidade não confirma as teorias bem fundamentadas em meta análises, que se dane a realidade.

Estudos sobre a realidade brasileira

No caso da realidade brasileira, o cenário é ainda mais claro: quase a totalidade dos estudos indicam uma associação positiva entre armas e homicídios.

Quase todos os “estudos” sobre o assunto feitos no Brasil foram sob patrocínio do Viva Rio, Sou da Paz, Instituto Igarapé, etc. São estudos onde já se conhece o resultado antes deles começarem.

Os estudos seminais no assunto foram publicados pelos economistas Daniel Cerqueira (IPEA) e João Manoel Pinho de Mello (Insper)[5]. Utilizando dados do Estado de São Paulo, eles demonstraram que, naqueles municípios onde as apreensões de armas pós-Estatuto do Desarmamento foram maiores, houve também uma queda proporcionalmente maior no número de homicídios, já considerados outras características de cada um dos municípios. Esse fluxo de queda do número de armas não teve nenhum impacto sobre atos violentos que não envolviam armas – o que indica que armas provavelmente têm um impacto de causalidade, e não somente correlação.

 Este é mais um dos trabalhos de Daniel Cerqueira feito para justificar o Estatuto do Desarmamento. Sigam o raciocínio:

  • Num determinado município a polícia faz grande apreensão de armas.
  • Podemos imaginar que essas armas, em sua grande maioria, foram apreendidas nas mãos de marginais;
  • Em função dessas apreensões o número de usos criminosos de armas diminuiu.

Tem lógica o escrito acima? Sim - tirar armas de bandidos diminui o uso delas em crimes. Agora eu pergunto: o que o Estatuto do Desarmamento tem a ver com isso? A polícia só apreendeu essas armas por causa do Estatuto do Desarmamento? Antes do estatuto a polícia não apreendia armas ilegais?

Convém observar que o efeito observado é temporário, dado que onde há demanda sempre haverá um fornecedor disposto a supri-la. Assim, o trabalho da polícia deve ser permanente e constante.

Uma outra afirmação comum entre os anti-armas é que quando a polícia está nas ruas apreendendo armas, o número de crimes com armas diminui.

Ora, se a polícia estivesse nas ruas apenas checando documentos o efeito seria o mesmo. Polícia na rua é uma boa prevenção contra o crime.

A Tese de Doutorado de Gabriel Hartung (FGV/EPGE) também reforça essas conclusões, mostrando “evidências de que a queda da taxa de homicídios foi fortemente influenciada pela redução do estoque de armas”[6]. Ela também chama atenção para aspectos demográficos, mostrando que o número de crianças (5-10 anos) criadas em lares monoparentais (geralmente abandonadas pela figura paterna) têm um impacto sobre a taxa de homicídios 10 anos mais tarde.

 

O quadro acima é a maior prova de que o Estatuto do Desarmamento é inócuo. A lei é federal, mas em alguns estados os homicídios aumentaram e em outros diminuíram. Se a lei fosse eficaz, todas as regiões do país deveriam apresentar a mesma tendência. Nuns mais, noutros menos, mas a tendência deveria ser geral.

Observem o grande aumento da criminalidade no Nordeste. Esta foi a região do Brasil que teve maior crescimento econômico no período, assim como redução da desigualdade. Esta é uma prova cabal que não é a pobreza que leva ao crime, mas sim a impunidade.

Uma das variáveis que explicam a taxa de homicídios é a proporção de homens jovens na população total, já que jovens em geral têm maior propensão a se envolver com crimes. Esses aspectos demográficos certamente ajudam a explicar as tendências discrepantes no Sudeste e no Nordeste brasileiros entre 2005 e 2015. Abaixo, a correlação entre a variação na proporção de homens jovens na população dos estados e a variação na taxa de homicídios, extraída da tese de doutorado de Daniel Cerqueira.

  

Isto é a demonstração do óbvio. Os jovens são mais irresponsáveis que os maduros. Sofrem mais acidentes pois praticam atividades mais arriscadas, bebem mais, tem mais testosterona, tomam mais drogas e, inclusive, praticam mais crimes. É por este motivo que seguros de automóvel são mais caros para motoristas com menos de 25 anos. Qual a relevância deste dado em relação ao Estatuto do Desarmamento?

Por fim, um estudo recente do economista Rodrigo Schneider (Universidade de Illinois em Urbana-Champaign) é o mais convincente quanto a relação entre o Estatuto do Desarmamento e as taxas de homicídios[7]. Usando dados bem detalhados, com 72 mil observações mês a mês no nível dos municípios, ele demonstra que no momento imediatamente posterior à implementação do Estatuto do Desarmamento (ED), houve uma ruptura na tendência da taxa de homicídios por arma de fogo – algo que, como esperado, não ocorreu nos homicídios que não utilizaram armas.